AUTOESTIMA, AUTOCONFIANÇA E
RESPONSABILIDADE
HÉLIO JOSÉ GUILHARDI
A NATUREZA DOS SENTIMENTOS
Autoestima, autoconfiança e responsabilidade estão associados à maturidade e à
felicidade de uma pessoa.
Os
sentimentos são manifestações corporais que ocorrem na interação entre a pessoa
e seu ambiente físico ou social e que recebem um nome.
A
função causal dos sentimentos embora aceita é incorreta. Ex. Fez isto porque
estava com raiva.
Sempre
ocorrem eventos antecedentes e estes produzem ao mesmo tempo comportamentos e
sentimentos.
Para
compreender as ações e sentimentos de uma pessoa é preciso voltar atrás para
localizar os eventos antecedentes.
É
necessário ajudar as crianças a nomearem seus sentimentos para discriminá-los e
reconhecê-los, não torná-las “insensíveis”
ou confusas.
Pode-se
começar pelos órgãos dos sentidos (som alto, paladar salgado, espetar com
agulha, etc.)
Deve-se
prestar atenção na interação com o ambiente para ajudar o filho com
contingências de reforçamento.
Ex.
se o filho tem notas baixas e o pai é exigente sente medo e ansiedade ao ter
que mostrar as notas pois teme repreensão e castigo . Já se a mãe é
compreensiva ele terá tranquilidade pois sabe que será compreendido e apoiado.
Os
sentimentos e comportamentos são produzidos pelas contingências de
reforçamento.
Contingências
amenas e gratificantes geram comportamentos adequados e sentimentos agradáveis
(pais acolhedores e diálogo produzem bem estar e satisfação, por ex.)
As
pessoas não nascem com auto estima, autoconfiança e responsabilidade, porém os
pais podem gerar contingências de reforçamento que ajude ao filho desenvolver
estes sentimentos.
AUTOESTIMA
Autoestima é sentimento produto de contingência de reforçamento, em que logo após a
criança se comportar de maneira específica, os pais consequenciam de forma
positiva com atenção, carinho, afago físico, sorriso, etc.
Se
ao comportamento da criança segue-se crítica, repreensão, punição, não a tocam
e nem conversam com ela – contingências reforçamento negativas, isto faz
diminuir a auto estima da criança.
O
fundamental para o desenvolvimento da auto estima é o reconhecimento que os
pais expressam ao filho pelos seus comportamentos.
A
pessoa com boa auto estima aprende a exercitar o auto-reconhecimento, emite
comportamento que é capaz de produzir consequências reforçadoras para si. Ela
promove para si mesma o que é bom para ela simplesmente porque se ama.
Deve-se
ter disponibilidade de tempo para o filho.
Os
critérios de exigência de desempenho devem ser naturais, pois quando
exagerados tornam os filhos
ansiosos futuramente perfeccionistas.
Quando
se explica demais uma coisa para o filho pode-se fortalecer o comportamento de
oposição (ex. usar o casaco).
Ao
ajudar a criança a se vestir ou comer pode-se alimentar uma dependência e
incapacidade de fazer sozinha.
Não
se deve gratificar a criança apenas quando se comportar adequadamente, pois a
relação fica caracterizada como troca e não gratuidade e amor.
Os
pais precisam flexibilizar seus critérios do que é certo ou errado, adequado ou
inadequado e incluir aqueles comportamentos que são reforçadores para os filhos
e não só para os pais.
“A
relação entre todos da família sempre pareceu harmoniosa. No entanto, ela sente
um vazio afetivo difícil de ser entendido. O que ocorreu, provavelmente, é que essa pessoa sempre se comportou de
maneira adequada de acordo com os critérios dos pais, e por isso foi elogiada.
Nunca foi punida porque não ousou fugir dos critérios de bom comportamento em
vigor. Não foi punida, de fato, mas nunca se sentiu livre para quebrar os
limites, a fim de testar a relação com os pais. Enfim, não se sentiu amada.”
Deve-se
sempre rever os critérios e dar chance ao filho para argumentar em causa
própria.
Lembrando...
Ainda
persiste a importância de dar limites às crianças, dizer não, proibi-la de
fazer determinadas coisas e puni-la quando os comportamentos apresentam riscos
para sua segurança são partes necessárias do desenvolvimento comportamental e
afetivo. Ela precisa sofrer frustrações e aprender a lidar com elas. Ela se
sentirá ansiosa, insegura e desamparada caso as punições forem inconsistentes
ou não contingentes (ex. pais alcólatras, falta de dinheiro, desavença conjugal
que descontam na criança).
Cuidado
para não minar a auto estima do filho:
◦
Ao realizar um desejo do pai e se esquecer das
limitações do filho
◦
Ao exigir o alto padrão de desempenho sempre
◦
Ao gratificar só quando se comporta bem, sem
demonstrar carinho e atenção em outras ocasiões.
Resumo
autoestima:
É
um sentimento aprendido e desenvolvido ao longo da vida
Decorre
de relações inter-pessoais em que a pessoa e não apenas os seus comportamentos
são reconhecidos pelo outro.
Passa
a ser mantida e desenvolvida pela própria pessoa.
Está
associada à possibilidade da pessoa de sentir-se livre, amada, de tomar
iniciativa, ser criativa, e é criada a partir das contingências reforçadoras
positivas e amenas fornecidas pelos pais.
Só
se desenvolve a partir da inserção da pessoa num contexto social
Se
desenvolve quando os pais priorizam seus filhos e não seus comportamentos
Se
desenvolve quando os pais reforçam o comportamento do filho sem atentar para as
contingencias.
Contingências
punitivas e coercitivas não ajudam a desenvolver auto estima.
AUTOCONFIANÇA
O
sentimento de autoconfiança está associado aos comportamentos bem sucedidos.
Um
reforçamento negativo se dá quando se retira ou se subtrai alguma coisa
consequente ao comportamento.
Uma
pessoa com autoconfiança é segura, confiante,
tem iniciativa, etc.
Os
pais devem sempre estar revendo seus critérios de exigência.
Se
houver necessidade de desempenho complexo é apropriado aguardar a idade em que
a criança já tenha os pré-requisitos.
A
modelagem de comportamentos complexos deve ser feita por pessoas qualificadas
(professores, treinadores).
Os
pais podem ajudar os filhos a desenvolver autoconfiança permitindo-lhes e até
incentivando-os a explorar o ambiente.
É
importante que o filho verbalize e o pai, escute-o, dando-lhe atenção enquanto
ele fala, e fazendo gestos de aprovação = contingência reforçadora.
O
sentimento de autoconfiança pode estar associado a bem-estar, satisfação, e a falta de autoconfiança gera medo e
ansiedade.
A
criança que emitiu comportamentos e foi reforçada aprende a tomar
iniciativas, a resolver problemas, a
persistir diante de tentativas fracassadas até obter o sucesso, torna-se
independente, desenvolve sentimentos de segurança, satisfação, coragem, etc.
A
criança que foi impedida de emitir comportamentos fica privada de reforços
positivos, apresenta déficits de comportamentos motores e verbais, não aprende
a tomar iniciativa e a solucionar problemas, desiste facilmente diante do
insucesso e desenvolve sentimentos de medo, ansiedade, insegurança, fobias,
etc.
Resumo
autoconfiança
É
um sentimento aprendido e desenvolvido durante a vida da pessoa.
É
produzido por uma história de reforçamento positivo e negativo.
É
desenvolvida quando aprende que seus comportamentos produzem consequências
reforçadoras positivas ou evitam consequências aversivas.
Se
desenvolve quando os pais têm como prioridade os comportamentos do filho e não
a criança como pessoa e quando o meio social cria condições favoráveis para a
criança emitir comportamentos bem sucedidos.
Para
exercitar a autoconfiança do filho
Criar
condições do filho explorar alguma situação ou ambiente diferente para obter
reforçadores naturais.
Reforçar
positivamente seu comportamento sem explicitar altas exigências.
Não
realizar o comportamento pelo filho para poupá-lo das consequências aversivas.
Acompanhar,
incentivar o filho a emitir o comportamento complexo quando ele já consegue
emitir com sucesso.
Criticar
e punir de forma branda quando necessário, sem criar traumas.
RESPONSABILIDADE
Na
punição, um determinado comportamento produz um evento aversivo que tem como
efeito enfraquecer o comportamento ao qual foi contingente. A criança perde algo que lhe é gratificante
quando emite um comportamento “inadequado.”
Diante
de um evento aversivo a pessoa pode ter a reação de fuga e de esquiva.
Toda
a contingência em que estiver operando alguma forma de evento aversivo será uma
contingência coercitiva.
O
sentimento de responsabilidade ocorre quando estão sendo usadas contingências
coercitivas. Elas são necessárias ao
desenvolvimento saudável de uma pessoa.
O
mundo social gera consequências aversivas inevitáveis, ex. choque com corrente
elétrica.
As
contingências coercitivas devem ser amenas, pois quando intensas produzem
sentimentos de ansiedade e de medo, geram comportamentos de contra-controle
indesejáveis (mente, se esconde, agride, perde a iniciativa, etc.)
Um
pai pode dizer meu filho me ajuda porque quer mas ignora que no passado o filho
aprendeu que não ajudar deixava o “pai triste” e não obedecer era um exemplo de
“desrespeito e ingratidão”.
Como
é difícil sentir-se responsável, pois os sentimentos de responsabilidade
aparecem sob controle de contingências aversivas. E o controle aversivo faz
sofrer, torna a vida mais dolorosa e difícil.
Mesmo
que as contingências coercitivas não estejam mais presentes, elas tiveram no
passado o seu papel para instalar tais comportamentos. Ex. reforços
sociais: “que menino educado” ;“ficaria
feliz se meus filhos ajudarem em casa como o Pedro”, etc.
O
segredo é iniciar com exigências relativamente simples e ir aumentando o grau
de dificuldade.
Há
pessoas que são extremamente responsáveis e incapazes de curtir o lazer, sempre
preocupadas. Por quê? Foram submetidas a contingências coercitivas muito
intensas, exigências elevadas de desempenho, ausência de alguém para detectar o
excesso, e punições sem ligação com o comportamento dela (ex. alcoolismo,
doença psiquiátrica, etc.)
Os
pais como membros de uma comunidade social empregam largamente contingência
aversivas, porém uma classe de contingências coercitivas deve ser evitada.
Os
comportamentos responsáveis podem ser baseados em contingências reforçadoras
positivas, pois associarão sentimentos de satisfação, liberdade, bem estar,
etc. Fazer com prazer não com responsabilidade.
É
preciso observar e controlar efetivamente se o filho não vai para a escola, usa
drogas, gasta tempo com jogos no computador, etc.
Resumo
de responsabilidade
É
um sentimento aprendido e desenvolvido durante a vida da pessoa.
Produzido
por contingências de reforçamento coercitivos.
Desenvolvido
com comportamentos que beneficiam o filho e as pessoas.
Só
deve ser desenvolvida através de contingências coercitivas amenas associadas
com contingências reforçadoras positivas.
Responsabilidade
desenvolvida por contingências coercitivas torna a pessoa presa ou imune a
sentimentos de culpa.
Se
substituirmos a contingência coercitiva por gratificantes ajudamos a produzir
nos filhos o comportamento responsável e não o sentimento de
responsabilidade. Fazer por prazer.
Para
refletir
Fiz
exigências razoáveis sobre o comportamento do meu filho?
Procurei
tornar as consequências coercitivas as mais amenas possível, e as apliquei de
forma justa?
Utilizei
reforçadores positivos?
Procurei
avaliar se a aquisição do comportamento beneficiava também o filho e não apenas
a mim?
Conclusões
Auto
estima, autoconfiança e responsabilidade são causados pelas contingências
manejadas pelo grupo social, não são causas do comportamento.
Falta
de autoconfiança pode se assemelhar a “foi punido por se opor ao que as pessoas
falam ou fazem. Limitado em tomar iniciativas
e tomar decisões, não adota procedimentos para alterar o comportamento dos
subalternos que o controlam ”.
Falta
de autoestima pode se assemelhar a “teve uma história de reforçamento social
positivo pouco frequente e baixo reconhecimento , tem falhas para emitir
respostas que produzam reforçadores sociais positivos, união com parceiros que a reforçam pouco”.
Irresponsabilidade
pode se assemelhar a “teve pouco contato com contingências coercitivas e não
foi modelado por reforçamento positivo. Quando solicitado a emitir um
comportamento esquivou-se dizendo que o faria. Não sofreu nenhuma consequência
aversiva para parar de mentir e nem para instalar o comportamento”.
AUTO-OBSERVAÇÃO
Há
importantes ganhos no desenvolvimento de uma criança quando ela observa seus
próprios comportamentos e as consequências que eles produzem. A pessoa tem que ser ensinada a observar.
As
perguntas feitas durante a atividade ajudam a criança a observar o ambiente e
seu próprio comportamento, e os sentimentos que vivencia.
Tornar
os relatos da criança tornando-os mais precisos ajuda a fortalecer seu
repertório verbal e produzir sentimentos de alívio, satisfação, autoconfiança,
auto estima etc.
É
fundamental que a pessoa aprenda a observar seus comportamentos e o contexto em
que eles ocorrem: os antecedentes e as consequências que eles produzem. Só
desta maneira a pessoa pode se tornar um agente ativo de sua própria vida.
O
comportamento de observar precisa ser aprendido e essa tarefa cabe à comunidade
verbal em que o indivíduo está inserido. Fazer perguntas sobre o comportamento
que a criança emitiu e sobre as consequências sociais que o seguem e ir
modelando as respostas ajuda aos pais na instalação de comportamentos de
auto-observação e de observação do contexto social.
CONVERSAR
= DIALOGAR
Para
refletir
Conversei
com meu filho quando estivemos juntos?
Perguntei
sobre o que tem feito e como tem se sentido?
Perguntei
como os amigos se comportam com ele?
Sugeri
para ele observar seus próprios comportamentos com as outras pessoas e como
elas reagem ao que ele lhes diz e faz?
Estimulei meu filho a falar das coisas desagradáveis
que tem ocorrido com ele, sobre os sentimentos que elas desencadearam e como as
tem enfrentado?
Falei
para meu filho o que tenho feito e como tenho me sentido?
Contei
para meu filho as dificuldades que tenho enfrentado na vida e como venho
lidando com elas e como tenho me sentido?
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